Padres artistas vão receber mais de R$ 1,4 milhão em cachês públicos para shows no São João da Bahia

A tradicional celebração do São João na Bahia, conhecida por seu apelo cultural e religioso, ganhou novos protagonistas neste ano: quatro padres cantores, conhecidos por suas carreiras musicais, estão entre as atrações confirmadas em festas juninas financiadas com recursos públicos, somando mais de R$ 1,4 milhão em cachês.
O destaque é o padre Alessandro Campos, apelidado de “padre sertanejo”, que lidera o ranking com R$ 945 mil em contratos para três apresentações nas cidades de Campo Formoso (10/06), Itatim (14/06) e Barreiras (21/06).
A contratação dos artistas religiosos aparece no Painel de Transparência dos Festejos Juninos, ferramenta lançada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) para monitorar os gastos públicos com eventos culturais no estado. O objetivo é aumentar a fiscalização e garantir que os investimentos públicos estejam alinhados com critérios de interesse coletivo e transparência.
Além de Alessandro, outros três padres foram contratados:
- Padre Fábio de Melo, figura popular no cenário religioso e midiático, receberá R$ 600 mil por duas apresentações;
- Padre João Carlos, com carreira voltada à evangelização musical, fará um show por R$ 80 mil;
- Padre Antônio Maria, outro nome tradicional entre os religiosos cantores, foi contratado por R$ 130 mil.
Debate sobre uso de verbas públicas
A participação dos padres nas festas tem gerado debates sobre o uso de recursos públicos em eventos com conotação religiosa, mesmo em contextos culturais como o São João, que mistura tradição nordestina, festividade popular e elementos da fé cristã.
Críticos apontam que, embora os artistas sejam populares e tragam público, os valores elevados dos cachês contrastam com a realidade orçamentária de muitos municípios, onde faltam investimentos em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura.
Por outro lado, defensores das contratações argumentam que os shows ajudam a movimentar a economia local, atraem turismo e fortalecem o caráter cultural e religioso das festas juninas — elementos centrais da identidade baiana.
MP-BA intensifica fiscalização
Com a proximidade dos principais eventos juninos, o Ministério Público da Bahia intensificou as investigações sobre os contratos firmados com recursos públicos. A iniciativa visa coibir excessos e possíveis irregularidades, garantindo que a destinação do dinheiro público seja feita de forma legal e equilibrada.
O Painel de Transparência, acessível ao público, permite acompanhar os valores, artistas contratados e cidades envolvidas, promovendo maior controle social e transparência sobre os gastos festivos.
Contexto
O uso de artistas religiosos com verbas públicas já foi motivo de polêmica em outras ocasiões, e o tema continua a gerar embates entre fé, cultura e legalidade. Enquanto muitos veem nas apresentações uma extensão da religiosidade popular típica do São João, outros questionam se a contratação de padres cantores deve ser feita com dinheiro dos cofres públicos.
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