EVANGÉLICOS CRESCEM E TRANSFORMAM CENÁRIO RELIGIOSO NO BRASIL, APONTA CENSO 2022
Religião ganha força entre jovens, indígenas, negros e nas periferias; avanço já supera católicos em dezenas de municípios

O Brasil vive uma mudança silenciosa, porém profunda, em sua paisagem religiosa. Os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados nesta sexta-feira (6) pelo IBGE, mostram que o número de evangélicos no país segue em crescimento acelerado e já representa 26,9% da população com 10 anos ou mais — o equivalente a 47,4 milhões de pessoas.
Em um país historicamente identificado como católico, o avanço dos evangélicos é marcante. Em 58 municípios brasileiros, a fé evangélica já supera o catolicismo, fenômeno que reflete um novo padrão de religiosidade nacional.
Jovens, periferias e povos tradicionais impulsionam avanço
O crescimento é particularmente notável entre os jovens. Na faixa etária de 10 a 14 anos, 31,6% se declaram evangélicos, enquanto os católicos, antes amplamente majoritários, somam agora 52%. A tendência indica que as próximas gerações devem tornar os evangélicos ainda mais expressivos.
O avanço também é visível entre grupos historicamente marginalizados:
- 32,2% dos indígenas se identificam como evangélicos.
- 30% dos pretos seguem essa religião.
- Entre os pardos, o percentual é de 29,3%.
A presença das igrejas evangélicas em periferias urbanas, áreas rurais, comunidades indígenas e junto a populações negras mostra como essa fé vem ocupando espaços onde o Estado frequentemente falha em oferecer apoio e serviços básicos.
Norte lidera adesão e cidades evangélicas se multiplicam
No recorte regional, o Norte é a região com maior proporção de evangélicos, com destaque para o Acre, onde 44,4% da população segue essa fé. O município de Manacapuru (AM) se destaca como a cidade mais evangélica do país: 51,8% dos habitantes.
Estados do Centro-Oeste, interior de São Paulo, Rondônia, Pará e Mato Grosso também apresentam crescimento expressivo.
Por que os evangélicos crescem?
Especialistas apontam uma série de fatores para explicar o crescimento:
- Forte atuação social das igrejas em comunidades vulneráveis.
- Expansão rápida das denominações pentecostais e neopentecostais.
- Linguagem direta e cultos emocionais, com foco em transformação pessoal.
- Uso intenso de mídias digitais, rádio e televisão.
“A igreja está onde o Estado não está. O evangelismo se torna um amparo espiritual e social para milhões”, explica o sociólogo Paulo Borges, especialista em religião contemporânea.
Catolicismo em queda
Apesar de ainda majoritária, a fé católica segue em declínio: 56,7% dos brasileiros se identificam como católicos — o menor índice já registrado desde 1872. Em 2010, eram 65,1%. Nos anos 1970, a taxa era de 90%.
Entre 2010 e 2022:
- Os católicos perderam 5 milhões de fiéis.
- Os evangélicos ganharam 12,4 milhões de novos adeptos.
Caso a tendência se mantenha, o Brasil poderá ter maioria evangélica nas próximas duas décadas.
Nova força social e política
Com mais fiéis, os evangélicos também ampliam sua influência política, midiática e cultural. Pastores, igrejas e movimentos religiosos têm participado ativamente de eleições, debates públicos e decisões legislativas sobre temas como educação, costumes, aborto e direitos civis.
“A fé evangélica se tornou protagonista no Brasil. Não é só uma religião — é um movimento social com impacto nacional”, resume Paulo Borges.
Outros destaques do Censo 2022
- Pessoas sem religião cresceram de 7,9% para 9,3%.
- Umbanda e candomblé triplicaram sua participação: de 0,3% para 1%.
- Espíritas caíram de 2,2% para 1,8%.
- Religiões orientais e esotéricas passaram de 2,7% para 4%.
O Censo 2022 revela um país em transição espiritual. A religiosidade brasileira se diversifica, se descentraliza e passa a refletir uma nova configuração social — mais plural, conectada e, acima de tudo, profundamente marcada pela ascensão do movimento evangélico.
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