José Júnior
Quando o poder vira triângulo: governo, casamento e sucessão

Na política tocantinense, o clima é de novela — daquelas boas, com suspense, dilemas morais e uma pitada de tensão conjugal. No centro da trama: o governador Wanderlei Barbosa, a primeira-dama Karine Sotero, e o vice-governador Laurez Moreira.
Wanderlei vive um dilema de ouro (ou de bronze, dependendo do desfecho): renunciar ao governo para disputar o Senado ou permanecer no cargo até o fim do mandato.
O problema é que, se ficar, pode frustrar o projeto eleitoral da esposa, que vem se posicionando, se movimentando e se articulando como candidata. Não oficialmente, claro — mas quem observa o cenário percebe os gestos, os sorrisos certos e os acenos diretos ao eleitorado.
E vem o impasse: pela legislação, Karine só pode ser candidata se o marido deixar o governo até seis meses antes da eleição. Uma escolha dura — não apenas política, mas doméstica. Porque, sejamos honestos, há brigas que não se ganham com palanque.
Se Wanderlei ceder à pressão interna — leia-se Karine, família, grupo político — e renunciar, entrega o governo de bandeja ao vice Laurez Moreira, com quem a relação já azedou faz tempo. E Laurez, dizem os corredores do Palácio, está só esperando a oportunidade de calçar a botina do poder e pisar firme. Bem firme.
Aliás, ninguém duvida que ele não vá mandar lembrança nem cartão postal quando assumir.
Em resumo: se não renuncia, segura o cargo, mas tranca o projeto da esposa. Se renuncia, salva a candidatura dela, mas arrisca tudo — inclusive o controle da máquina e a liderança sobre o grupo.
É o clássico triângulo de poder: um pé no governo, outro no Senado e o coração dividido entre a vida pública e a privada.
No fim das contas, não é sobre culpa nem sobre gênero. É sobre decisões. E sobre como, em ano eleitoral, a política costuma invadir até a sala de jantar.
José Júnior
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